Usando resíduos de conchas de frutos do mar e grãos de café que seriam descartados, a designer vietnamita Uyen Tran conseguiu desenvolver um material chamado Tômtex, capaz de replicar o couro, a borracha e até o plástico. Flexível, o material também consegue imitar outros tipos de peles animais, como escamas e peles de cobras e crocodilos. Segundo a designer, o objetivo do projeto é fornecer uma alternativa ao couro, cuja fabricação envolve degradação ambiental, e ao mesmo tempo reaproveitar recursos naturais que seriam descartados. Além disso, a fabricação do Tômtex não necessita de calor, o que reduz o consumo de energia e diminui ainda mais a pegada de carbono do material. Segundo a designer, o produto tem aplicações na indústria da moda, design e design de interiores.
A escolha dos materiais que compõem o Tômtex é interessante pois, além de serem abundantes e biodegradáveis, as indústrias globais vêm gerando cada vez mais resíduos: anualmente, são produzidas de 6 milhões a 8 milhões de toneladas de cascas de caranguejo, camarão e lagosta pela indústria global, sendo 1,5 milhões geradas apenas no sudeste asiático segundo um estudo publicado na revista Nature. Já o desperdício de grãos de café chega a seis milhões de toneladas anuais. As conchas de frutos do mar são particularmente interessantes porque são ricas em quitina, substância resistente e impermeável muito presente na natureza e que geralmente é usado para fabricar bioplásticos mais duros.
Pensando nestas propriedades, Uyen Tran, que mora em Nova York mas cresceu na cidade vietnamita de Da Nang, conseguiu um fornecedor no Vietnã para as conchas e usou resíduos de café de sua própria cozinha e de cafeterias locais para confecionar o Tômtex. Segundo o site da iniciativa, o projeto também é uma resposta à ausência de métodos eficientes de reciclagem das conchas do mar e grãos de café.
O material é tingido usando pigmentos naturais. Após misturar todos os ingredientes, a designer os coloca em um molde que deixa secar a temperatura ambiente por dois dias, sem o uso de energia elétrica e reduzindo ainda mais o impacto ambiental. Para criar as diferentes texturas, Tran fabrica os próprios moldes em argila ou por meio de impressão 3D. Dessa forma, ela é capaz de replicar as diferentes texturas de peles animais. E, caso queira, basta usar um molde liso para deixar o Tômtex similar ao plástico e à borracha.
Graças à quitina, o Tômtex também é impermeável. Quando o produto atinge o fim de sua vida útil, ele pode ser reciclado ou descartado na natureza para ser biodegradado. Tran afirma que o Tômtex não perde sua qualidade quando reciclado, alegando que o tecido reciclado tem as mesmas propriedades do original. Se descartado, ela diz que o produto é completamente biodegradado pela natureza em alguns meses e pode servir até como fertilizante para plantas.
*Casa Vogue
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