O relógio biológico da reprodução é implacável com a mulher. Ela nasce com um número de óvulos definido da puberdade à menopausa. De acordo com Agnaldo Cedenho, especialista em reprodução humana da Unifesp, a população não está ciente de que a fertilidade feminina começa a cair ao redor dos 30 anos. “Uma mulher saudável nessa idade tem cerca de 20% de chance de engravidar por mês e, quando chega aos 40, cai para 5%”, afirma o especialista. Com base em estudos científicos, o professor afirma que, por processos fisiológicos, o pico da fertilidade feminina ocorre entre os 20 e os 24 anos, diminuindo de forma mais lenta dos 30 aos 32 anos, e rapidamente depois dos 40. Além disso, podem ocorrer alguns problemas que, agravados pela idade, contribuem no declínio da capacidade reprodutiva, como a endometriose. O professor, no entanto, salienta que os avanços da medicina buscam um caminho para adequar a vida dessa nova mulher ao momento da maternidade. “Somente um especialista em reprodução assistida poderá fazer uma avaliação e indicar o tratamento adequado”.
Como é engravidar aos 20?
A mulher de 20 anos, em geral, tem pensamentos em direções opostas ao bercinho do bebê. Sonha com a independência financeira. Casamento, se vier, só no futuro. Quando engravida, na maior parte das vezes, é um susto. “Em geral, ela nem pensa nisso e se vê obrigada a antecipar decisões importantes, como se aquele namorado fosse realmente o homem que quer para a vida toda”, explica Silvana Rabello.
Passado o choque inicial, a grávida de 20 anos corre atrás de informação. Não quer virar mera observadora dos acontecimentos. “Elas têm sede de aprender, lêem muito. São abertas para receber nossas recomendações”, analisa o obstetra Jorge Kuhn dos Santos, da Casa Moara (SP). E, até pela pouca experiência de vida, aos 20 anos, não exigem tanto de si mesmas. “Não se preocupam tanto em errar”, diz a psicóloga paulistana Simone Savaya. Mas essa é também uma mulher que se sente roubada. Abdica de seus sonhos, dos planos, da vida de solteira, de namorar muito. Sem falar na independência. “É uma mãe que tem menos chances de estar tranqüila financeiramente e, por isso, muitas vezes, depende de ajuda, seja do pai da criança ou dos próprios pais dela”, observa Simone.
Como é engravidar aos 30?
Muitas das mulheres que se tornam mães aos 30 têm uma gravidez planejada ou, pelo menos, desejada. Mas, cada vez mais, os 30 são os novos 20, ou seja, hoje, aos 30, muitas mulheres entram na categoria acima: estão em busca de independência financeira, diversão, estudos e viagens. Muitas não esperam, ainda, ter de tomar decisões sobre casamento, por exemplo, e pretendem deixar isso para a fase dos 40. “No entanto, é nesta idade, dos 30, que muitas mulheres se sentem mais maduras, economicamente estáveis e planejam formar a própria família. E, acima de tudo, vivem o momento em que começam a pensar se querem ou não ter um filho”, avalia a psicanalista Silvana Rabello.
Para Mary Lise Moysés Silveira, também psicanalista, a mulher de 30 anos equilibra vantagens. “Em função de não ser tão jovem, é uma mulher mais preparada para assumir essa responsabilidade. E, ao mesmo tempo, tem ainda muita energia para ficar com a criança”. Ela também pode contar com a ajuda dos amigos, já que muitos deles passam pela mesma experiência de ser pais nessa fase. O risco, no entanto, é se cobrar demais. Como tinha uma vida de certa forma regrada, ela se vê diante de uma série de decisões a serem tomadas. “E querem ser excelentes em tudo: profissionalmente, preocupam-se em não faltar aos filhos, poder ir almoçar com uma amiga qualquer dia, cuidar do relacionamento e ainda ter um belo corpo!”, aponta a psicóloga Simone Savaya. “O segredo é entender que não será perfeita e, a partir daí, definir objetivos”.
Como é engravidar aos 40?
O filho da mulher de 40 anos vem com uma carga de ansiedade muito maior. “É uma mãe marcada pelo conceito de saúde total. Ela sabe que tem poucas chances de ter outro bebê e, então, é muito preocupada com segurança, saúde e tem medo de correr riscos”, opina o pediatra Albert Bousso, do Hospital Israelita Albert Einstein (SP). Esse zelo mais aguçado pode ser positivo para a criança. “Ela percebe as vantagens da presença física da mãe no dia a dia”, observa a psicanalista Mary Lise Moysés Silveira.
O receio natural que qualquer pai tem de perder o filho ganha maior proporção na mãe, com a maturidade. “A criança torna-se um bem mais especial ainda e, como tudo que tem um valor único, é cuidada com zelo”, afirma a psicóloga Débora Seibel. “O que se observa, em geral, é que reagem com mais maturidade e paciência no trato com os filhos”. Mas também podem ser mais ansiosas em relação à saúde de seus bebês. “Muitas confessam que têm medo de perder o único filho. No primeiro ano de vida da criança, ligam para o pediatra a toda hora”, constata o pediatra Hamilton Robledo (SP).
Essa ansiedade é constatada já nas clínicas de reprodução assistida. Como correm contra o tempo, muitas mulheres procuram os médicos com uma ideia fixa: ter gêmeos. Sabem que dificilmente terão outro bebê. “Elas sonham em sair da clínica com uma família completa e até se desapontam ao saber que estão esperando apenas um filho”, diz a psicóloga Débora Seibel. O cuidado maior com a maternidade aos 40, e que também se aplica a mães de qualquer idade, é não depositar na criança a única esperança de felicidade. “Não convém alimentar a fantasia de que o filho será a resolução para questões mal decididas ou inacabadas. Ter um filho é uma alegria, desde que haja condições reais, não apenas financeiras, para sustentar a situação. Caso contrário, a mãe terminará por descontar suas frustrações na criança”, alerta o psiquiatra e psicoterapeuta Eduardo Navajas Filho.
Uma mãe enfrenta testes psicólogicos e tem a sua identidade é posta em conflito o tempo todo. “Ela precisa estar emocionalmente fortalecida”, resume Navajas, lembrando que, nesse aspecto, a experiência de vida e a maturidade das mães de 40 são uma vantagem. “Me senti mais preparada para educar uma criança do que 20 anos antes, pois já havia passado por muita coisa e isso me tornou mais realista”, diz a administradora Janete Santos, que teve a filha, Flora Morena, aos 46. Ela pensou em ser mãe pela primeira vez aos 42. “Na época, fui desencorajada pelo obstetra. Mas não desisti, apenas mudei de médico. Um ano depois, estava grávida”, diverte-se.
*Revista Crescer
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