A esperança está cada dia maior, com a chegada da vacina contra a Covid-19, mas ainda assim, muitos se mostram preocupados, tanto com relação a eficácia, quanto a vacinação geral, se vai acontecer e quando.
Pensando nisso, o Blog Rochany Rocha entrevistou algumas pessoas para saber o que elas estão esperando da vacina. A aposentada de 71 anos, Ana Adélia, que está há mais de um ano em isolamento social afirma que não tem coragem de tomar a vacina ainda. “Se for obrigado tomar, vou ficar no final da fila. Estou com muito medo e quero ter tempo para avaliar como são os efeitos colaterais nas outras pessoas”, disse.
Esse pensamento é bem expressivo, quando avaliamos a última pesquisa, realizada pelo Instituto Datafolha, em 12 de dezembro de 2020, que apontava 22% dos brasileiros que não pretendem se vacinar contra a covid-19. Já 73% afirmam que vão se imunizar. Outros 5% responderam que ainda não sabem. O levantamento foi realizado de 8 a 10 de dezembro.
A pesquisa mostra que cresceu o número de brasileiros que não pretendem tomar a vacina contra o coronavírus. Em agosto, 9% diziam que não tomariam o imunizante, enquanto 89% dos entrevistados disseram que sim, tomariam.
Esses dados mostram como desinformação e grupos antivacina ameaçam o combate à covid-19 no Brasil. Informações desencontradas sobre eficácia e um governo desequilibrado fortalecem pensamentos que podem colocar em risco a vida de muitos outros brasileiros, além da sua.
O potencial estrago de um movimento antivacina é conhecido. Em todo o mundo, estima-se que a imunização contra doenças salve cerca de 3 milhões de pessoas por ano, ou seja, 5 pessoas a cada minuto.
Grávida e mãe de dois outros filhos, Mariana* decidiu que não vai vacinar a família contra a covid-19. Ela diz que não nega a ciência, mas que acredita na força de cura do corpo. “Mas não falamos abertamente sobre isso, por orientação do nosso médico homeopata”, complementa Mariana, que nunca imunizou os filhos, mas tem um atestado que alega, falsamente, que os filhos seriam alérgicos.
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O caso é visto com preocupação pela Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm). “É uma atitude lastimável. Isso é crime de ética. A própria Associação Médica Homeopática Brasileira não tolera isso e apoia o calendário de vacinação”, critica Isabella Ballalai, vice-presidente da SBIm que integra o grupo consultivo Vaccine Safety Net, da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Com mais de 200 mil mortes por covid-19 e com a perspectiva de frear a pandemia com os imunizantes, o Brasil vê a resistência à vacina crescer em decorrência do movimento antivacina. Em todo o mundo, estima-se que a imunização contra doenças salve cerca de 3 milhões de pessoas por ano, ou seja, 5 pessoas a cada minuto.
“Desconfiar das vacinas ou não aderir às campanhas pode levar a perdas irreparáveis”, afirma Luiz Carlos Dias, professor do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro da força-tarefa da universidade no combate à covid-19.
Diante desse cenário, o Supremo Tribunal Federal (STF) criou leis de obrigatoriedade da vacina contra o coronavírus e define restrições a quem desobedecer. O resultado foi criticado pelo presidente Jair Bolsonaro, que já disse publicamente que não irá se vacinar e pretende exigir termo de responsabilidade de quem tomar vacina.
Detalhe: o cartão de vacinação do presidente Jair Bolsonaro está sob sigilo, de até 100 anos, decretads pelo planalto. O sigilo do cartão de vacinação veio a tona após a coluna do jornalista Guilherme Amado, da Revista Época, realizar pedido de acesso a carteira, via Lei de Acesso a Informação – LAI. Ou seja, o presidente pode estar imunizado, mas continua pregando o movimento antivacina.
“É um cenário muito difícil. Precisamos de falas de confiança que sejam coerentes com o que a ciência diz. E a ciência está sendo atropelada no Brasil durante toda essa pandemia”, critica Ballalai.
Para SBIm, posicionamentos equivocados como os do presidente Bolsonaro minam a confiança da população e servem como combustível para os que se negam a receber vacinas.
O combate ao vírus da desinformação
Mariana, por exemplo, começou a questionar o uso de vacinas após ouvir os argumentos do médico homeopata que trata a família, há sete anos, quando o primeiro filho nasceu. “Ele falou sobre interesses econômicos das farmacêuticas e dizia que doenças infantis ajudam a amadurecer o corpo da criança”, diz.
As informações que ela recebe vêm principalmente de páginas secretas numa rede social, traduzidas de outras línguas. Por outro lado, ela confessa que não checa tudo o que lê.
Ballalai, que é pediatra, diz que a maior parte do conteúdo que alimenta os grupos antivacinas vem de fora. “Cerca de 50% das informações difundidas aqui são importadas da Europa e Estados Unidos”, pontua a médica.
Os dados fazem parte de uma pesquisa divulgada em 2019 pela Avaaz e a SBIm com o objetivo de investigar o elo entre a desinformação e a queda nas coberturas vacinais. A pesquisa, feita pelo Ibope com uma amostra de 2.002 pessoas, mostrou ainda que sete em cada dez brasileiros acreditam em alguma informação falsa relacionada a vacinas.
Do total de entrevistados, 13% disseram que não se vacinaram ou não vacinaram uma criança sob seus cuidados. Entre os motivos estão falta de planejamento ou esquecimento; argumentos como “não achei que a vacina fosse necessária”, o que a SBIm considera desinformação; falta de informação e medo de efeitos colaterais graves – algo que também é considerado desinformação.
“Percebemos que a rede que dissemina a desinformação é bem formada, é profissional. E com o cenário que a gente está vivendo hoje, de negação da ciência e disputa política, isso está piorando”, avalia Ballalai.
Imunidade coletiva
Para Dias, da Unicamp, a atuação do movimento antivacina é “absolutamente irresponsável, criminosa”, principalmente em meio a uma emergência mundial. “Covid-19 não é uma questão individual, é uma questão de saúde coletiva. Se não tivermos uma imunização em massa, nós não atingiremos uma imunidade coletiva necessária”, afirma o pesquisador.
A SBIm alega que esta é a única possibilidade de controle da pandemia.
“As vacinas vêm principalmente para diminuir mortes, hospitalizações e casos graves. Mas não será o fim da doença, 2021 será ainda um ano de distanciamento social, de não aglomeração e uso de máscaras”, ressalta Ballalai.
*Nome fictício, a pedido da entrevistada.
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