Você já ouviu falar em pobreza menstrual? Esse é o termo vai muito além da falta de dinheiro para comprar produtos de higiene menstrual adequados. Ela denuncia um problema global da falta de acesso à água, saneamento básico e desigualdade social.
Recentemente, uma pesquisa realizada pelo Girl Up Brasil, mostrou que 1 entre 4 garotas deixam de ir à escola por não terem condições de compra o protetor.
Esse número isolado pode parecer insignificativo, mas quando colocamos na ponta do lápis, que só no Brasil, cerca de 30 milhões de mulheres menstruam e grande parte delas não tem condições de comprar o item de necessidade básica, assusta.
De acordo com a pesquisa, anualmente, uma mulher gasta de R$ 3 mil a R$ 8 mil reais, ao longo da vida, com absorventes. Uma verdadeira fortuna, para muitas mulheres que não têm o alimento do dia.
Além do alto preço e da dificuldade ao acesso, os absorventes também trazem uma série de problemas para a flora vaginal, e também para o meio ambiente.
A empreendedora Tamiris Santos revela que o coletor pra ela “foi salvação”, já que a mesma possui muito fluxo e sentia muito incômodo com o absorvente tradicional.
“Há 7 meses eu uso, e além de significar uma economia financeira, pois eu passo até 12h com ele, tiro, lavo e recoloco, eu me sinto muito segura e não tenho a necessidade de estar sempre trocando o absorvente. Além disso, eu sentia muita alergia e o coletor resolveu esse problema”, conta Tamiris.
Com relação à flora natural, os absorventes internos, por exemplo, “sugam” os fluidos vaginais saudáveis, como: bactérias, a hidratação e lubrificação natural.
Já com relação ao meio ambiente, uma mulher pode acumular cerca de 200 quilos de lixo somente em absorventes descartáveis, durante sua vida menstrual. Noventa por cento desse material é plástico e demora mais de 400 anos para se decompor.
Alternativa
Portanto, uma alternativa é o coletor ou “copinho” menstrual. Que para a empresária Ívila Taísa, foi a melhor decisão, tomada por ela, no último ano.
“Eu sofria muito com o desconforto do absorvente interno, pois meu fluxo era muito e demorado. Há um ano uso o coletor de silicone, que além de ser interno, uma proposta que eu gosto, é reutilizável, o que para mim é um ponto positivo, não produzir mais lixo para o meio ambiente”, revela a empreendedora que afirma “nunca mais volto a usar absorvente comum”.
Apesar de não serem novidade, ainda há muito que aprender sobre eles, como suas origens e formatos mais adequados para cada pessoa.
Outro benefício do coletor, é que você pode ficar com ele por até 12h, e ter noção exata do seu fluxo menstrual.
Para a fisioterapeuta Mariele Duarte, que usa o coletor há 3 meses, foi difícil encontrar um jeito para colocar, mas não voltaria a usar os absorventes comuns.
“Eu gostei bastante. Demorei um pouco pra conseguir achar o melhor jeito de colocar, mas depois que aprendi, não volto mais para os comuns. Eu super amei, não incomoda, não vaza, e não sai com a cólica (tenho muita cólica, e sempre acabava expulsando o OB)”, conta.
Primeiro coletor menstrual
O primeiro coletor, registrado, foi inventado pela atriz norte-americana, Leona W. Chalmers, em 1937.
Apesar da existência de outros objetos com usos similares na mesma época, Chalmers foi a primeira a patenteá-lo.
O primeiro modelo, feito de borracha, não teve grande popularidade na época. Com a iminência da Segunda Guerra Mundial e escassez dessa matéria-prima, a inventora passa a explorar a borracha vulcânica, um material ligeiramente mais macio, para a construção dos copinhos.
No mesmo ano que Leona Chalmers patenteou o copinho, a mesma publicou o livro The Intimate Side of a Woman’s Life (O Lado Íntimo da Vida da Mulher) sobre a importância e formas de uso dos coletores.
Coletor menstrual na atualidade
Mesmo sendo inventado há mais de 80 anos, só agora começam a falar mais sobre o assunto.
Por séculos, as mulheres mantinha as conversas sobre esse assunto por debaixo dos panos, como algo sujo, nojento.
Com o feminismo contemporâneo, as mulheres se sentem mais firmes quanto a determinados tabus, sobretudo nas relações sobre os próprios corpos e o sangue menstrual.
O uso das redes sociais proporcionaram uma maior divulgação sobre o tema. Em 2014, a jornalista e youtuber Julia Tolezano fez o vídeo “Vai de copinho” explicando, de forma didática, a importância do copinho e as formas de usá-lo.
Ainda na internet, vários grupos do Facebook tratam sobre o tema e ajuda às mulheres a conhecerem os próprios ciclos, tipos e marcas de copinhos.
Um dos maiores grupos sobre o tema é o Coletores Brasil – menstrual cups, onde você pode ler muito sobre marcas, preços, formatos, como medir o tamanho do seu colo do útero, como colocar o copinho, uso com o DIU, até a higienização e acondicionamento.
Como saber o tamanho do coletor certo para você?
Saber o tamanho certo do coletor é primordial para sua eficácia. Por isso, devem ser levados em consideração o tamanho do comprimento do canal vaginal, além de saber qual é o volume do fluxo menstrual e conhecer a musculatura pélvica.
O primeiro passo é medir o comprimento do seu canal vaginal, e isso deve acontecer durante a menstruação, porque nessa altura do mês o colo do útero costuma estar mais baixo, o que influencia diretamente na escolha do coletor certo.
Para isso, você vai precisar higienizar suas mãos, encontrar uma posição confortável e inserir cuidadosamente seu dedo médio no canal vaginal até sentir o colo do útero.
Quando retirar o dedo verá a marca do sangue nas articulações e assim poderá saber se o colo do útero é baixo, médio ou alto.
Higienização dos coletores
É imprescindível a limpeza dos copinhos e de suas mãos, antes e após o uso. A água fervente é a forma mais prática de higienizar os coletores, porém deve-se ter cuidado com o manuseio de água quente em qualquer tipo de recipiente.
O coletor deve ser lavado sempre com água e sabão neutro a cada retirada e reintrodução vaginal, num mesmo ciclo menstrual, e sempre ser fervido no final, para ser guardado em um recipiente limpo e longe da exposição ao sol.
Alguns coletores já vem com um copinho próprio para a limpeza.
Vazamento
Não é difícil para as pessoas que usam coletores terem algumas dificuldades no ajuste e encaixe e, consequentemente, algum vazamento, sobretudo quem tem um fluxo menstrual mais intenso.
Para evitar que isso aconteça, é importante aprender como inserir corretamente o copinho para que ele fique bem encaixado no colo do útero.
Pessoas que possuem o útero invertido precisam encontrar a posição correta para que o vácuo aconteça – normalmente a posição de inserção mais indicada é horizontal.
Conhecer seu corpo é fundamental
Os coletores também cumprem um papel essencial para o autoconhecimento, quebra do estigma menstrual e proporciona liberdade.
“Dormir sem calcinha e menstruada é vida”, revela Mariele Duarte.
Se quiser começar a usá-los, você vai precisar conhecer melhor como funciona a sua anatomia e seu fluxo menstrual, afinal, o tamanho e formato do copinho escolhido depende diretamente do formato do seu próprio corpo e da intensidade do seu ciclo.
Parabéns pela matéria! Fica a dica para a mulherada. Só usem!