A economia circular já era uma realidade bem antes da pandemia, mas não há dúvida que a incerteza econômica e a tendência de consumo que valoriza comprar menos e melhor vem fazendo o setor de revenda crescer. De acordo com dados da ThredUp, a projeção é que o mercado de resale atinja US$ 64 bilhões nos próximos cinco anos – um crescimento de 500%, e a Geração Z é o grupo que está adotando a compra e venda de produtos de segunda mão mais rapidamente. Neste mês, a Gucci e a Levi’s anunciaram suas entradas nesse mercado. A primeira, em parceria com o site americano The RealReal, reunindo peças fornecidas pela própria marca ou por consignadores e a segunda em um modelo parecido, mas com plataforma própria, a Levi’s Secondhand. Nela, qualquer pessoa com uma peça da marca pode vendê-la em troca de um vale compras. Dentro do universo do denim, a label é uma das mais procuradas em mercados vintage e de segunda mão, e com esse programa, além de contribuir para um futuro mais verde, também se insere nesse setor.
No Brasil, o Grupo Reserva anunciou em setembro a compra de uma participação do Troc, e-commerce paranaense de revenda de roupas e acessórios. O grupo carioca se tornou sócio minoritário (os valores não foram revelados), e passou a oferecer 20% de desconto para clientes que se desfizerem de peças antigas da marca. “Juntamos as nossas expertises para tirar do papel a economia circular, conectando esse propósito com os nossos consumidores e tornando real essa oportunidade”, diz Rony Meisler, CEO do grupo. De acordo com Luanna Toniolo, fundadora da Troc, com a pandemia a startup triplicou para 30 mil o número de peças à venda no site.
O brechó Cansei Vendi, criado em 2013, anunciou um crescimento de 30% de abril a julho em comparação ao mesmo período do ano passado e atingiu recorde de faturamento mensal em agosto. Notando o crescimento do interesse da compra com propósito também introduziram produtos sustentáveis ao portfolio. Leilane Sabatini, CEO da empresa, diz que as bolsas da Chanel e da Louis Vuitton lideraram as saídas nos últimos meses, seguidas por relógios e joias. “As pessoas não estão viajando por conta das restrições para conter o coronavírus, e a alta do dólar tornou os importados inviáveis”, analisa.
Lançado em maio por Juliana Santos, o Circular (@ajudeacircular), também se dedica à essa prática. De acordo com a fundadora, em alguns dias o projeto vendeu igual ou mais que a Dona Santa, multimarcas que ela comanda em Recife, sucesso tão grande que a plataforma de segunda mão irá ganhar um espaço físico ainda esse mês. “Fiz o lançamento do Circular bem no meio da pandemia, com peças do meu closet e da minha mãe. Foi tão bem que partimos para o resale, e hoje clientes podem vender suas peças e escolher receber o percentual ou ganhar créditos para usar na loja, renovando o seu closet”, diz Juliana. Acessórios como bolsas, óculos e sapatos são os campeões de busca, e 10% do valor de todas as vendas é revertido para instituições sociais.
Outra plataforma que nasceu em resposta à Covid-19 foi o Roupartilhar, de Natalia Hohagen e Maria Chagas. As duas buscavam uma maneira de ajudar instituições sem fins lucrativos impactadas nesse período e convocaram marcas e influenciadoras para doar peças e realizar um leilão online. O projeto já arrecadou mais de R$ 120.000 e desde então os leilões tornaram-se recorrentes. O objetivo agora é contribuir para a moda circular e com propósito mesmo após a pandemia, sempre com ajuda de parceiros (o mais recente foi a marca carioca Maria Filó, que disponibilizou 38 peças com renda revertida para a ONG Dress Like a Girl). Em Belo Horizonte, a Wabi, fundada em 2018, também tem parte da renda revertida para instituições, e aposta em revendas entre pessoas com proximidade geográfica, a fim de diminuir as emissões de carbono e fomentar o consumo local. O sistema acontece através de grupos de Whatsapp com diferentes focos como moda feminina, casa e infantil.
Enquanto as vendas do varejo geral devem diminuir 23% em resposta à pandemia, o mercado de segunda mão deve crescer 27%, de acordo com o 2020 Resale Report. Olhando mais adiante, a projeção é que, nos próximos cinco anos a revenda online crescerá 414%, enquanto o varejo geral diminuirá 4%. Não à toa, muita gente no mercado já captou a mensagem de que a economia circular é o futuro.
*Vogue
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