'Fantasia' de enfermeira de Bruna Marquezine causa polêmica nas redes.
'Fantasia' de enfermeira de Bruna Marquezine causa polêmica nas redes.
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Entenda a polêmica da ‘fantasia’ de Bruna Marquezine

Bruna Marquezine causou polêmica ao se fantasiar como ‘enfermeira sexy’ em uma festa de Halloween. A foto foi publicada pela atriz na terça-feira (02) e, em poucos minutos, já virou assunto nas redes sociais, levando até o Conselho Regional de Enfermagem (Coren) a divulgar uma nota de repúdio sobre o assunto como antecipou o Purepeople. Mas, por que a fantasia é tão polêmica?

Já há alguns carnavais que a temática se tornou pauta. Algumas fantasias definitivamente não são legais de serem usadas. Isso porque elas só servem para estereotipar alguma característica em torno de uma profissão ou grupo.

Bombeiros, enfermeiras, professores, policiais são algumas das profissões recorde de vendas de fantasias, principalmente na época do Carnaval. O problema está quando a fantasia é usada de maneira a hiperssexualizar a profissão.

PESQUISA APONTA QUE 47% DAS BRASILEIRAS JÁ FORAM VÍTIMAS DE ASSÉDIO SEXUAL NO AMBIENTE PROFISSIONAL

Segundo uma pesquisa realizada em 2020 pela Think Eva com o LinkedIn, quase metade das brasileiras (47%) afirma ter sido vítima de assédio sexual em algum momento no ambiente profissional. Dessas, 78,4% acreditam que nada de fato acontecerá se denunciarem o crime dentro empresa.

Logo, o grande problema em usar tais fantasias em festas é o de criar uma imagem coletiva de que tal profissão é sexy, abrindo, assim, margem para o desrespeito com a profissional. Colocar uma mulher em um papel sensual acaba objetificando e vai na contramão da discussão sobre a luta contra o machismo.

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ENTENDA OS PRINCIPAIS PONTOS LEVANTADOS PELO CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM

A maioria da classe é formada por mulheres: Segundo a nota divulgada pelo Conselho Regional de Enfermagem, cerca de 80% da categoria é formada por mulheres. Com isso, os números de profissionais que sofrem assédio se torna bem maior.

Incentiva a sexualização de uma categoria: Como qualquer profissão, as enfermeiras necessitam de um ambiente de trabalho saudável para exercerem seus conhecimentos. Isso inclui não ser importunada sexualmente por colegas de trabalho e, muito menos, pacientes. Quando uma determinada imagem é muito propagada na mídia, ela se fortalece no imaginário popular. Se essa imagem é de que enfermeiras são símbolos sexuais, abre margem para que as profissionais também sejam vistas de tal maneira.

Fantasias são válidas desde que não tenham impacto negativo: Segundo a nota do Coren, isso não significa que a fantasia de enfermeira está proibida. Mas, sim, a fantasia que sexualiza a profissão. Você pode sair de enfermeira no Carnaval, a brincadeira é sempre válida. Só não pode ser uma enfermeira sexy.

O Coren-SP fez uma sondagem em março deste ano sobre as situações de vulnerabilidade a que as mulheres da enfermagem estão mais sujeitas. Dentre os resultados, há dados sobre violência de gênero dentro e fora do ambiente de trabalho:

74,8% das participantes ganham até 4 salários mínimos por mês
Elas sofreram violência psicológica (88,9%), moral (41%), física (11,4%), sexual (7,2%) e patrimonial (4,9%)
Pacientes ou acompanhantes foram responsáveis por 62,3% das incidências, seguidos por superior hierárquico (52,3%) e colega de trabalho da enfermagem (36,4%), geralmente homens (80,2% das incidências)
Além disso, 75,1% destas afirmam terem tido impactos na saúde física e/ou psicológica

GIOVANNA EWBANK E INGRID GUIMARÃES FORAM CRITICADAS PELO CONSELHO DE ENFERMAGEM POR FANTASIA EM 2019

Em abril de 2019, um caso parecido tomou conta da mídia. Em um vídeo para o canal no YouTube deGiovanna Ewbank, a atriz e Ingrid Guimarães conversavam sobre o lançamento de “De Pernas Para o Ar 3” usando fantasias de enfermeiras. As roupas foram alvo de críticas e a presidente do Coren, Renata Pietro fez uma carta aberta às duas explicando os motivos pelos quais a roupa é problemática.

“Abordagens como essa são um empecilho para a nossa luta em busca de reconhecimento. No vídeo de vocês, o uso de termos como ‘vestida desse jeito’ e ‘ela não só veio vestida de enfermeira como também trouxe brinquedos’ reduz a profissão a uma mera fantasia sexual. A enfermagem é uma profissão que depreende anos de estudo e aperfeiçoamento. Sua classificação fantasiosa é apenas mais um exemplo de um machismo estrutural que reduz o trabalho feminino a questões sexuais. Não são poucos também, por exemplo, os casos de feminicídio praticados contra profissionais de enfermagem, o que só demonstra o tamanho da luta que temos para além de nossa rotina de trabalho”, dizia um dos trechos da carta.

A repercussão fez Giovanna gravar um vídeo com Renata conversando sobre a problemática. “A gente tem o costume de apenas reproduzir as coisas. Então para mim sempre foi muito normal ver fantasias eróticas de enfermeira, secretária, aeromoça…”, comentou.

Giovanna Ewbank e Ingrid Guimarães já foram criticadas por usarem fantasia de enfermeira em vídeo.

COREN FAZ NOTA CONTRA ROUPA DE BRUNA MARQUEZINE

Assim como aconteceu com o caso de Giovanna Ewbank e Ingrid Guimarães, Bruna Marquezine também foi alertada pelo Conselho. Na nota, eles também falam sobre uma postagem da influenciadora Cátia Damasceno e do look de Thais Massa, também de enfermeira sexy.

Confira a nota completa:

“Fantasias de enfermeira desvalorizam o profissionalismo da enfermagem

A enfermagem é uma profissão que exige conhecimentos técnicos, anos de estudo e muito empenho e dedicação em seu cotidiano. Além disso, por ser uma categoria predominantemente feminina, com mais de 80% de mulheres, sofre os impactos das desigualdades de gênero, o que inclui episódios de violência e assédio.
Por esses e muitos outros motivos, é inadmissível que a fantasia de enfermeira, utilizada em carnavais, festas de halloween e sátiras continue sendo tolerada pela sociedade, sobretudo por formadores de opinião.

O tema já foi alvo de intervenções do Coren-SP por diversas vezes, como no episódio em que as atrizes Giovanna Ewbank e Ingrid Guimarães humildemente se retrataram por terem se apropriado da imagem da profissão com conotação sexual. Deparamos-nos nas recentes celebrações de Halloween com a atriz Bruna Marquezine fantasiada do que a mídia chamou de “enfermeira sexy”. Também com postagem de influenciadoras como Cátia Damasceno, que fez uma enquete para que os seguidores escolhessem sobre a fantasia de mulher gata ou “enfermeira bem sexy; e Thais Massa que se fantasiou como tal.

Repudiamos veementemente essa conduta, pois ela incentiva a sexualização de uma categoria que há décadas luta por valorização e respeito. São trabalhadoras que enfrentam sucessivas jornadas de trabalho, em seus lares e no cotidiano profissional e que não merecem ou devem ser estereotipadas dessa forma.

O Coren-SP defende que todo o humor e diversão são válidos desde que não prejudiquem ou provoquem qualquer impacto negativo na vida do próximo. Por isso faz um apelo à sociedade e aos formadores de opinião: respeitem e valorizem as mulheres da enfermagem”.

*Purepeople

Sobre o Autor

Redação Rochany Rocha

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