Do pediatra Carlos Gonzalez
Para a maioria das crianças pequenas, mamãe e papai não são a mesma coisa.
A princípio, não se nota tanto. Os recém-nascidos permitem que quase qualquer pessoa os pegue no colo. Reconhecem e preferem sua mãe, mas aceitam, também, os outros. Se choram, quase qualquer pessoa pode tranquilizá-los (exceto quando choram de fome, claro; nesse caso, só a mãe pode dar o peito).
Porém, mais para a frente, até os 8 ou 9 meses, a preferência pela mãe fica mais exclusiva. É a chamada angústia de separação: os bebês choram desesperados quando perdem a mãe de vista. Muitos recusam que qualquer outra pessoa os pegue no colo, inclusive os avós, com quem, há algumas semanas, pareciam muito felizes. Nem o pai é aceito. Particularmente, na hora de dormir: não é que demora mais para que durmam nos braços de outro; é que muitos gritam angustiados se parece que esse alguém, e não a mãe, tem a intenção de colocá-los para dormir.
Não é recusa. Enquanto estão no colo da mãe, as crianças dessa idade parecem responder bem a outras pessoas, inclusive a desconhecidos. Se você sorri, o bebê devolve o sorriso; se dedica alguns segundos para conquistar a confiança dele, você consegue ir chegando perto e até tocá-lo… no colo da mãe. No entanto, à menor suspeita de que você vai tentar tirá-lo dos braços dela, acabam-se os sorrisos.
Nos casos mais extremos, a situação pode ser dura para o pai. Você se envolveu na criação do seu filho, deu banho e trocou fraldas desde o início e, de repente, ele chora no seu colo e só quer ficar com a mamãe. É preciso entender que é normal, que não é nada pessoal, e que isso passa com o tempo.
Se você quiser, querido pai, que seu filho o aceite, antes terá de se esforçar. É a grande diferença: as crianças pequenas querem sua mãe loucamente, faça o que fizer; mas nós, pais, temos de conquistar seu carinho. O truque não é que a mãe se vá para que o pai possa passar tempo com seu bebê, porque tê-lo chorando em seus braços não vai melhorar a situação. Você não quer se transformar naquela pessoa “que me separa da mamãe”. Pelo contrário, é quando a criança está com a mãe e, portanto, está feliz e confiante, que temos de sorrir para ela, cantar, fazer cosquinha, contar histórias… E, pouco a pouco, aceitará ficar conosco um tempo, enquanto a mamãe está fora e, algum dia, nos concederá o privilégio de contar uma história antes de dormir.
“Mamãe, mamãe, já pode vir, que o papai já dormiu”, diziam meus filhos, quando eu caía, rendido, depois da quinta história.
*Crescer
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