Conviver com a ansiedade é um desafio, pois ela provoca uma tentativa de controle que, muitas vezes, antecipa situações que supostamente podem trazer sofrimento. Existem tipos distintos de ansiedade, desde aquela mais branda que gera maior expectativa, até transtornos classificados como patologia. E uma pessoa em crise de ansiedade pode desenvolver sensações de incerteza, medo e angustia, alimentando um padrão de pensamento que só espera pelo pior.
Nessa hora, não adianta apostar em frases otimistas para tentar estimular a pessoa a reagir. Menos ainda, menosprezar a situação como se fosse algo fácil de ser superado. “Uma palavra faz diferença desde que seja empática.
E, às vezes, o que vale mesmo é escutar mais e falar menos”, avisa o psiquiatra Luiz Vicente Figueira de Mello, supervisor do programa de ansiedade do IPq do HC-FMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Uma ajuda equivocada pode aumentar ainda mais a ansiedade causando mais sofrimento ao indivíduo, por isso é importante eliminar tudo que, ao invés de ajudar, só atrapalha. Saiba como oferecer apoio na medida certa:
1. Deixe o otimismo de lado
A intenção pode ser boa, mas na hora da crise ninguém está pronto para ouvir frases como “vai passar” ou “tudo vai dar certo”. Este tipo de apoio é irritante, pois o ansioso pode interpretar que o outro está desmerecendo sua dor. Em um momento de crise é muito difícil vislumbrar uma situação positiva, pois tudo parece ser muito difícil. Portanto, evite frases feitas inspiradas em autoajuda.
2. Evite dar um tranco
Definitivamente bancar o durão para fazer o outro reagir não vai funcionar. Este não é o momento. É essencial mostrar apoio, mas sem pressionar. Falar coisas como “Você é forte e vai superar” ou “Precisa enfrentar” só faz o outro sentir-se desvalorizado.
Os especialistas entrevistados pelo UOL VivaBem classificam esse tipo de ação como reforço negativo, pois o ansioso irá se sentir ainda mais fraco, e sua autoestima, que já está abalada, ficará pior.
3. Ouça mais
Pode acontecer de o ansioso querer desabafar, escute! Nessa fase, não aposte em avaliações e julgamentos para não causar desmotivação e ele desistir de se abrir. No entanto, não force este diálogo dizendo: “me conta o que você está sentindo” ou “o que está pensando”, pois isso pode gerar mais ansiedade. Respeite o tempo da pessoa!
4. Demonstre preocupação sincera
Independentemente do tamanho da crise, o diálogo deve ser afetuoso. Vale apostar em um “eu entendo você, vamos dar um tempo até que passe, estou aqui com você”. Uma crise de ansiedade dura, em média, 25 minutos, portanto permaneça ao lado demonstrando empatia.
Evite, porém, preocupação excessiva porque isso aumenta a ansiedade. Aja de maneira natural, sem transformar o episódio em uma catástrofe.
5. Procure distraí-lo com lembranças boas
É possível tentar desviar a atenção da pessoa, falando sobre algo aleatório ou relembrando coisas boas que já aconteceram ou que estão programadas, como uma viagem, por exemplo. Faça isso com muita atenção para não dar a impressão que está desqualificando aquele momento de ansiedade, tentando apenas desviar o foco.
Com sensibilidade dá para notar se deve continuar com essa estratégia. O ansioso vai demonstrar receptividade ou não. Se ele não gostar, simplesmente pare.
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6. Convide-o para dar uma volta
Nem sempre o ansioso terá disposição para algum tipo de atividade mais prazerosa, mas vale como tentativa convidá-lo para dar uma volta, fazer uma caminhada leve, respirar um ar diferente. Só não insista! Deixe-o livre para aceitar ou não.
E se durante a crise ele não aceitar, diga: “quando você melhorar podemos fazer algo juntos”. Isso mostra acolhimento, pois o ansioso tende a se sentir sozinho. E oferecer qualquer solução pronta de maneira automática pode causar rejeição.
7. Não ofereça uma bebida
O álcool pode até parecer relaxante, mas não é uma boa saída. Pois, sempre que surgir a crise ele poderá associar a bebida como forma de alívio. Tenha cuidado para não criar maus hábitos que não ajudam efetivamente, apenas mascaram o sintoma.
8. Elimine expectativas ou suspenses
Quem convive com alguém muito ansioso precisa ser mais objetivo e assertivo, portanto, evite qualquer tipo de tensão. Não fale “vamos, estamos atrasados” ou “estou com um pressentimento ruim”, pois isso irá poupá-lo de ter uma crise.
Outra dica é não marcar compromissos e atrasar, ou demorar para responder mensagens, pois tudo isso pode deixá-lo em estado de ansiedade.
9. Saiba reconhecer uma crise de ansiedade
Isso pode ajudar a prestar apoio no momento em que o ansioso mais precisa: durante uma crise. A agitação física pode ser um dos primeiros sinais: ficar balançando braços e pernas, se estiver em pé, ficar caminhado de um lado para outro, tremor, suor e parecer ofegante.
Também dá para notar que algo está fora do ponto pela forma como se comunica, ou seja, sua fala está sempre prevendo algum acontecimento ruim, como: “ele não gosta de mim” ou “não gostam do meu trabalho”. Ao observar esses sinais, aumente a atenção e ofereça ajuda na medida certa.
10. Dicas simples para lidar com a ansiedade
Quer ajudar? Ofereça sugestões práticas e efetivas. Uma é sugerir melhoras no planejamento do ansioso, já que mantendo sua rotina mais controlada pode evitar situações que possam fugir do controle. Neste caso, sugerir uma planilha com compromissos e horários pode deixá-lo mais seguro, sem a sensação de que poderá esquecer algo importante.
A ansiedade também costuma afetar muito o sono, causando mais agitação. Por isso, sugira que ele deixe uma folha e caneta ao lado da cama e, se lembrar de algo importante para o dia seguinte, anote! Ao fazer isso, o ansioso divide sua responsabilidade com o papel e afasta pensamentos recorrentes que atrapalham o sono.
*Viva Bem, UOL
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