Mesmo em crise, consumo de itens de vestuário deve crescer neste fim de ano, mas alguns produtos podem literalmente acabar com o clima
A indústria da moda é responsável por quase 10% do CO2 emitido atualmente em todo o planeta. Como evitar presentes de natal ligados ao desmatamento e às mudanças climáticas? Separamos alguns dicas:
Couro
Um estudo lançado em novembro mostra que produtos de couro têm chances elevadas de estar associado ao desmatamento no Brasil. O levantamento feito pela Stand.earth sobre as principais marcas de moda globais revela que somente 30% delas têm alguma política de sustentabilidade para a compra de couro. E mesmo estas estariam infringindo as próprias regras ao adquirir o material de produtores brasileiros sabidamente implicados no desmatamento.
“Sabendo que há uma conexão direta entre o couro que faz nossos sapatos e bolsas e a destruição da Amazônia realmente me abalou”,
afirma Amber Valletta, supermodelo, atriz, editora de sustentabilidade da Vogue Britânica.
“A indústria da moda está entre as mais criativas, poderosas e influentes do mundo. Não há absolutamente nenhuma razão para que não possa arregaçar as mangas e deixar de ser cúmplice nem mesmo de mais um centímetro de desmatamento da Amazônia.”
Couro de cogumelos
Há opções ao couro – materiais similares ao couro em termos de resistência, longevidade e suavidade ao toque – feitas de fibras vegetais penteadas de plantas como cacto, manga, soja, coco, cortiça, maçã, abacaxi, cogumelos e casca de uva. Algumas dessas alternativas já possuem marcas registradas, como Piñatex, Vegea, Desserto e Mylo. No Brasil, a maior parte das bolsas e sapatos veganos são feitos de materiais plásticos mesclados a fibras de algodão e resíduos industriais.
Se você faz questão de não usar materiais sintéticos, uma opção são as peças feitas com couro reaproveitado – o chamado upcycling. Há marcas no país que fazem bolsas, cintos, carteiras e até sapatos com sobras dos maiores pólos calçadistas do país ou resíduos automotivos como as sobras da produção de bancos de couro.
Tecidos sintéticos
As fibras sintéticas são feitas a partir de combustíveis fósseis. Isso significa que durante a sua produção, fibras como o poliéster emitem poluentes perigosos para a saúde. E ao usar essas roupas, a pele humana tende a reagir negativamente – algumas pessoas suam mais ao vestir camisetas sintéticas, enquanto crianças e pessoas alérgicas podem ter irritações na pele com coceiras e, em alguns casos, inflamações.
Esses tecidos, quando lavados, também soltam microfibras difíceis de eliminar da água, mesmo após tratamento, porque essas fibras não são biodegradáveis.
Os tecidos sintéticos são considerados uma das principais fontes de microplásticos nos oceanos.
Ao mesmo tempo, essas são as fibras mais baratas da indústria da moda. Segundo um estudo publicado este ano pela organização Modefica, mais da metade dos itens de vestuários produzidos no mundo em 2018 eram de poliéster, com outros 10% feitos de poliamida e outras fibras com origem no petróleo.
Fibras naturais
No Brasil, a maior parte das roupas é feita de algodão – o país é o quarto maior produtor da fibra e segundo maior exportador, sendo um dos maiores mercados mundiais de jeans e sarjas, feitos de algodão. Mas as roupas mais baratas disponíveis nas lojas são sintéticas, e uma boa parte deste material é importada, principalmente de países asiáticos, como a China.
Em tempos de dinheiro curto, invista em qualidade em lugar de quantidade, comprando menos roupas, mas preferencialmente feitas de materiais naturais, como o algodão, viscose e liocel que estão entre os mais econômicos.
Outra opção é itens de segunda mão, um dos principais segmentos da chamada economia circular. As roupas usadas já quebraram o tabu no país com sites e aplicativos de grande sucesso que facilitam essa comercialização, além de brechós especializados, que oferecem peças vintage ou exclusivas. Há lojas físicas e virtuais voltadas especificamente ao vestuário infantil usado, já que as crianças perdem rapidamente peças ainda em ótimo estado.
Design e costura
A sustentabilidade de uma roupa não está apenas na matéria-prima, mas também na maneira como ela foi produzida, e o design pode ter um papel decisivo sobre a duração de uma peça. Modelos “da moda” costumam ficar ultrapassados assim que a estação do ano acaba, em um ciclo vicioso que leva as pessoas a consumir sempre mais do que precisam – o chamado fast fashion.
Uma dica é apostar em modelos clássicos, atemporais, que combinam com aquilo que as pessoas já têm em seus guarda-roupas.
E o mais importante: uma roupa bonita é aquela feita de maneira justa. Nada é mais cafona do que presentear alguém com marcas que desrespeitem os direitos humanos e as leis trabalhistas e ambientais. Em um mundo em crise climática, cada consumidor é eternamente responsável por aquilo que compra.
Para saber mais
Não quer couro de desmatamento da Amazônia no seu tênis? Assine aqui o manifesto pedindo que as maiores marcas do mundo parem de comprar couro oriundo de desmatamento.
Você já ouviu falar em algodão naturalmente colorido? Este material existe, é nativo do Brasil e produzido de maneira orgânica no estado da Paraíba. As fibras desta planta podem gerar tecidos nas cores branca, bege, rubi e verde claro sem a necessidade de tingimento e branqueamento. Saiba mais aqui.
Você nunca ouviu falar em liocel ou tencel? Esta é uma fibra feita de celulose, mas que não depende de produtos químicos tóxicos como a viscose e usa muito menos água na sua produção do que o algodão comum. O custo do liocel no Brasil ainda é alto devido ao seu processo de fabricação, mas marcas populares de moda e roupas de cama já vem adotando esta matéria-prima.
*Terra
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