O mundo está precisando de notícias boas. E a gente está precisando se comprometer para que isso aconteça. Passou da hora de empresários, criadores, comunicadores e consumidores que integram a gigantesca indústria da moda adotarem práticas em harmonia com o meio ambiente.
Dentro desse conceito, a estruturação da venda de roupas usadas, deu um passo à frente, impulsionado por plataformas digitais. Em 2021, os brechós online angariaram 36,2 milhões de novos vendedores, de um total recorde de 52,6 milhões.
De acordo com o relatório anual da plataforma ThreadUp, feito em parceria com a consultoria GlobalData, até 2030, daqui a apenas oito anos, o mercado de revenda terá o dobro de tamanho do fast fashion em número de vendas, movimentando seminovos de luxo e peças de upcycling.
Já nos próximos três anos, esse segmento deve saltar de US$ 36 bilhões para US$ 77 bilhões, em movimentação financeira anual. Vamos dar vida útil a peças velhas, fazendo com que a cadeia circule de maneira menos nociva, já que a produção sem fim de modinhas perecíveis esgarça os recursos ao limite.
Porém, isso só ajuda se a gente rever de fato nossa ânsia pelo consumo, inerente ao capitalismo. A moda é uma das indústrias que mais produzem lixo no planeta e, se as sociedades ocidentais não adotarem uma visão mais respeitosa com o coletivo e a natureza, não vai adiantar nada todo o movimento em prol do meio ambiente.
Um exemplo a ser seguido é o da estilista peruana Gabriela Hearst, que à frente da direção criativa da Chloé, implementou mudanças importantes na marca, em apenas duas coleções. No desfile de verão 2022, 55% das peças foram feitas com materiais de impacto reduzido. Gabriela usou restos do estoque da grife, evitou o uso de processos químicos no tingimento e trocou o algodão que forra as bolsas por linho (que emite menos gases de efeito estufa no cultivo e não exige tanta água).
Reciclou também o cashmere e usou solas feitas de upcycling de sandálias retiradas dos oceanos. Já a inglesa Stella McCartney inovou com a utilização da raiz do cogumelo para produzir a primeira bolsa de Mylo, uma alternativa de couro cultivada com micélio.
A coleção também apresentou itens de viscose “amiga da floresta”, proveniente de florestas antigas manejadas de forma sustentável, e o cupro, subproduto das colheitas de algodão. No mês passado, a estilista deu uma palestra na COP26, em Glasgow, sobre a necessidade de regulamentar mais esforços no setor ao lado dos governos.
Em outra frente, a Chanel formalizou seu compromisso com práticas sustentáveis divulgando o documento Chanel Mission 1,5°, elaborado de acordo com as metas do Acordo Climático de Paris de 2015.
Nele, a marca francesa se compromete a reduzir pela metade as emissões de carbono de suas operações até 2030, mudar para 100% de eletricidade renovável em todo o mundo até 2025 e reduzir as emissões da cadeia de suprimentos em 40% por item vendido.
SAIBA MAIS:
Acontecimentos que transformaram a moda no mundo
Artesã transforma pele de peixe em peças de moda
Natura reúne especialistas para discutir futuro da floresta amazônica
Na vanguarda de iniciativas do gênero, a Gucci lançou recentemente o relatório de impacto da marca referente a 2020 (intitulado Equilibrium Gucci), já apresentando a redução de 44% nos impactos ambientais totais e de 47% nas emissões de gases de efeito estufa, em relação a 2015. Assim, o mercado de luxo e os grandes varejistas focam em novos negócios, investindo nos pilares de ESG (sigla em inglês para definir as práticas ambientais, sociais e de governança das empresas).
Hoje, as empresas desperdiçam muita coisa e perdem dinheiro com o enorme problema de superprodução da moda e o excesso de estoque. E é justamente esse fator que catapulta o crescimento do mercado de revenda, despertando o interesse de grifes de luxo nessa seara.
Não à toa, grandes grupos de moda nacionais e internacionais passaram a comprar ações de plataformas online de second hand. Está tudo interligado. O negócio é fazer a roda girar para o bem da maioria, pensando no todo e lutando pelo bem do coletivo – e não esquecer de fazer a nossa parte na hora de criar, produzir, comprar ou pensar a moda.
Deixe um comentário